A Oferta Pública de Venda
O programa de ajustamento económico e financeiro imposto pela Troika a Portugal, na sequência do pedido de resgate em Abril de 2011, obrigava o Estado português a redimensionar a sua presença na economia, através da alienação de diversas empresas onde o Estado era accionista maioritário, entre as quais os Correios de Portugal.
A opção do governo passou pela privatização de 70% do capital dos CTT em bolsa, correspondente a 105 milhões de acções, dum total de 150 milhões de acções representativos de 100% do capital social. Esta operação seguiu a tendência do que havia acontecido recentemente na Europa com a privatização da belga BPost e do britânico Royal Mail. Recordemo-nos que a última operação de entrada em bolsa deste género foi há cinco anos, protagonizada pela EDP Renováveis.
A entrada em bolsa dos CTT foi concretizada através de uma oferta pública de venda (OPV) destinada a investidores particulares e funcionários da empresa, e de uma venda directa destinada a investidores institucionais. O grande objectivo desta OPV foi dotar a empresa de uma estrutura accionista diversificada, com uma importante base de investidores de retalho.
O intervalo de preço fixado pelo Governo foi entre os 4,10 euros e os 5,52 euros, o que avaliava a empresa entre os 615.000.000 e os 828.000.000 milhões de euros, respectivamente. Os trabalhadores da empresa beneficiaram dum desconto de 5% mas estavam obrigados a deter a acção em carteira até ao passado dia 5 de Março.
A forte procura por parte dos investidores institucionais, levou o governo a fixar o preço final no limite superior do intervalo, ou seja, nos 5,52 euros. A procura por parte dos pequenos investidores também foi elevada, com os CTT a apresentarem-se com uma das empresas com o dividend yield mais elevado e com a empresa a comprometer-se a manter um pay out ratio (percentagem do lucro que é distribuído aos accionistas sobre a forma de dividendo) superior a 90% em 2014.
Desde a sua entrada em bolsa, a 5 de Dezembro de 2013, que os CTT já valorizaram 32,43%. A conjuntura actual, com os juros da dívida portuguesa a baixarem em todos os prazos, a divulgação de várias entradas no capital dos CTT por parte de grandes empresas como a BlackRock, a UniCredit, a Goldman Sachs e alguns fundos de investimentos nacionais, a recuperação operacional que administração levou a cabo e a elevada atractividade dos dividendos têm contribuído para o bom desempenho das acções dos CTT.
Resultado líquido aumentou 70% em termos homólogos
Os CTT apresentaram ontem resultados, referentes ao exercício de 2013, de 61 milhões de euros, o que compara com os 35,7 milhões do ano anterior (um aumento de 70%).A contribuir para estes resultados esteve a área de serviços financeiros (os seguros de capitalização e os títulos de dívida pública foram determinante para a evolução dos resultados da empresa), o aumento do tráfego de encomendas em Portugal e Espanha e a redução dos custos operacionais em 4,5%, o que superou a quebra das receitas de 1,3% para os 704,8 milhões de euros.
Em comunicado, os CTT confirmaram ontem que vão propor, em assembleia geral, o pagamento de um dividendo de 40 cêntimos por acção aos seus accionistas, o que confere um dividend yield de 5,47% (à cotação de fecho de hoje). Apesar da forte subida dos títulos, desde a entrada em bolsa, este dividendo continua a ser um dos mais rentáveis da praça portuguesa.
Os riscos de investir nos CTT
- Exposição elevada á economia portuguesa: Portugal representa 90% das vendas, donde uma evolução negativa da economia representa um risco importante para o negócio dos CTT;
- A forte dependência de grandes clientes: a perda de grandes clientes poderá ter um impacto grande na receita;
- Dividendos elevados comprometem expansão do negócio: o elevado dividendo pago pelos CTT é favorável aos accionistas mas poderá comprometer a política de expansão e internacionalização dos CTT, ao deixar pouco lucro disponível para ser reinvestido no negócio;
- Nos últimos dias tem-se noticiado a possibilidade de o Governo antecipar a alienação dos restantes 30%, detidos pela Parpública, o que, de acordo com o prospecto da oferta inicial, estaria impedido de fazer até Setembro. Esta venda poderá ser prejudicial, a curto prazo, uma vez que a liquidez adicional poderá fazer com que haja um excesso de pressão vendedora, mas benéfica a longo prazo com o aumento do free float.
Factores Positivos
- Remuneração accionista elevada: a empresa apresenta um dos dividend yield mais elevados da praça portuguesa. À cotação de fecho de hoje, o dividend yield é de 5,47%;
- Empresa sem dívida: a empresa não apresenta dívida e apresenta um cashflow elevado;
- Cobertura por todo país: a rede de estações dos CTT e parceiros aderentes é bastante abrangente e permite á empresa reforçar a sua posição em algumas áreas sem ter que incorrer em custos elevados;
- O aumento dos preços de produtos de correio interno, a concretizar em Abril;
- A venda de obrigações soberanas nos balcões dos correios.
O que nos diz a Análise Técnica?
A análise técnica pressupõe a existência de um histórico de cotações considerável, de modo a ser possível extrapolarmos eventos passados no futuro.
Ora, a recente entrada em bolsa dos CTT não permite o cumprimento desse requisito, pelo que não faz muito sentido analisar tecnicamente o título. De qualquer maneira, existem já alguns níveis de preço de referência a que devemos prestar alguma atenção. São eles os suportes dos 6,20€, 6,58€ e 6,85€ e a resistência dada pelo máximo absoluto nos 7,50€, aproximadamente.
Conclusão
Na minha opinião, e apesar da turbulência causada pela tensão na Ucrânia nas últimas semanas, as acções dos correios, por estarem inseridas num sector mais defensivo, continuam a apresentar potencial de valorização, pelo menos até à entrada da acção no índice principal PSI-20 a 24 de Março. Por essa altura, a entrada no PSI-20, que vem dar maior visibilidade à empresa, já se encontra descontada no preço, e deveremos assistir a uma correcção.
Tendo em conta os resultados de 2013 divulgados ontem, os CTT apresentam um PER de 17,98 que está um pouco acima da média do sector.
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