domingo, 2 de março de 2014

Oi, tudo PT?

Depois da Portugal Telecom (PT) ter entrado no Brasil em 1998 com a compra de 19,6% do capital da CRT, ter anunciado, em Janeiro de 2001, uma “joint venture” com a Telefónica para operações móveis no Brasil, ter vendido a sua participação na Vivo à Telefónica e chegado a acordo para uma aliança estratégica com a Oi, em Julho de 2010, eis que, no passado dia 2 de Outubro de 2013, é anunciada a fusão entre a Portugal Telecom e a brasileira Oi. O anúncio da fusão foi recebido com euforia pelo mercado, tendo as acções da Portugal Telecom estado a subir 22,7% nas primeiras horas de negociação. A acção acabou o dia a valorizar quase 6,5%. A liquidez foi elevada, tendo sido trocadas de mãos 72,29 milhões de acções da PT, o valor mais elevado desde Fevereiro de 2007, quando a PT rejeitou a OPA da Sonaecom.

O que realmente interessa saber é se valerá a pena, ao pequeno investidor, manter em carteira as acções da PT ou eventualmente comprar acções da PT (caso não as detenha).

Comecemos pela fusão…


A fusão entre as duas operadoras vem sem dúvida retirar um dos gigantes nacionais da praça portuguesa e transferir o centro de decisões para o outro lado do Atlântico. A sede da nova operadora luso-brasileira vai ficar no Brasil, onde hoje é a sede da Oi, mais especificamente na cidade do Rio de Janeiro. Zeinal Bava será o novo CEO da nova cotada “CorpCo”. As acções da nova empresa vão ser negociadas em três índices bolsistas: Lisboa (na NYSE Euronext) São Paulo (BM&FBOVESPA) e Nova Iorque (NYSE).

Segundo o comunicado emitido ao mercado, no dia 2 de Outubro, o processo de fusão da PT/Oi deverá estar concluído ainda em 2014, estando dependente da aprovação pelos accionistas da PT e da Oi, em assembleia-geral, do aumento de capital e da aprovação das autoridades reguladoras. O aumento de capital da Oi é de 4,7 mil milhões de euros (2,7 mil milhões em dinheiro e dois mil milhões activos da PT).

No âmbito desta operação, a PT informou o mercado, no dia 21 de Fevereiro, dos termos de troca de acções da Portugal Telecom pela nova entidade que vai resultar da fusão com a Oi:
  • Os accionistas só irão saber quantas acções irão deter da nova companhia após a avaliação dos activos da PT e do aumento de capital da congénere brasileira;
  • Os investidores da PT vão ser pagos unicamente em acções da “CorpCo”, não havendo lugar a qualquer contrapartida monetária, sendo que há um factor fixo e outro variável para a troca. O variável será fixado quando for conhecido o preço do aumento de capital da Oi;
  • Cada acção da PT será trocada por 6,5188 reais em acções da “CorpCo” ao mesmo preço por acção do aumento de capital da Oi, segundo comunicado publicado na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Posto isto, os accionistas da PT terão de esperar até dia 16 de Abril, pelo preço das acções que a Oi vai emitir no reforço do capital. O preço das novas acções será decidido no processo de "bookbuilding".

 
O que dizem os fundamentais?

A PT sempre foi conhecida como uma das empresas do PSI20 com o dividend yield (percentagem dos lucros distribuída aos accionistas) mais elevado, na ordem dos 8%. Com a fusão, e tendo em conta que os accionistas da PT ficam com 38,1% da nova empresa, passarão a receber cerca de 1/3 dos dividendos que recebiam anteriormente. Zeinal Bava afirmou que, até a nova empresa gerar fluxo de caixa suficiente, a percentagem dos lucros distribuída aos accionistas será ponderada de forma cautelosa. O primeiro grande objectivo estratégico é a desalavancagem, leia-se desendividamento, da nova empresa.

Pontos Positivos

  • A combinação dos negócios da PT e da Oi vai criar o sétimo maior operador de telecomunicações da Europa (em termos de volume anual de vendas) e irá gerar sinergias estimadas de 5,5 mil milhões de reais, ou 1,8 mil milhões de euros. Além disso a nova empresa irá beneficiar de uma maior escala a nível mundial e da posição de liderança em Portugal e no Brasil;
  • As marcas comerciais da Portugal Telecom e da Oi manter-se-ão nos respectivos mercados, garantindo a continuidade da marca MEO para o mercado português;
  • O facto de passar a estar cotada em três bolsas a nível mundial, trará maior liquidez em bolsa e principalmente maior visibilidade à empresa;
  • Segunda o CEO da empresa, a fusão permitirá “reduzir o risco de execução, o risco operacional e o risco financeiro” das empresas;
  • A baixa penetração dos serviços da Oi e a dimensão do Brasil são uma oportunidade de crescimento futuro para a empresa;
  • No passado dia 19 de Fevereiro, a Portugal Telecom divulgou resultados referentes a 2013. O resultado líquido aumentou 46,6% para 331 milhões de euros, sobretudo devido à venda da Companhia de Telecomunicações de Macau (CMT), uma operação realizada no primeiro semestre do ano e que permitiu à PT encaixar 330 milhões de euros. A contribuir para os resultados da PT estiveram também as receitas da Oi que aumentaram 1%;
  • Zeinal Bava deverá apostar no mercado móvel pré-pago (ainda pouco explorado no Brasil), uma vez que esta política diminui as dívidas de cobrança duvidosa e alivia as necessidades de financiamento da empresa.
Principais Obstáculos

Advinham-se alguns desafios para este novo gigante das telecomunicações:
  • Por um lado a capacidade da reestruturação operacional do negócio no Brasil;
  • A ainda forte dependência da Oi relativamente ao mercado do telefone fixo, que apresenta pouco potencial de crescimento;
  • O elevado endividamento da Oi ao qual se soma agora o da PT.
Este último parece ser mesmo o principal foco de preocupação dos investidores, com o BPI a estimar que a nova empresa deverá ter “um rácio de dívida líquida face ao EBITDA de 3,3 vezes [já considerando o aumento de capital], o que compara com a média do sector que está em 2,2 vezes, entre as empresas constituintes do Stoxx Telecom.
 
O que nos diz a Análise Técnica?
 
De Novembro de 2010 a Julho de 2013, a Portugal Telecom desvalorizou dos 10,70 aos 2,69€ por acção, não acompanhado por isso o Bull Market que o PSI20 iniciou no Verão de 2012
Só desde 15 de Julho de 2013 é que acção iniciou uma recuperação técnica, tendo já valorizado cerca de 21%.
 
 
Os movimentos de subida da PT têm sido acompanhados por um aumento do volume de negociação o que demonstra sinais de força por parte do mercado. Pelo contrário, as descidas têm revelado um decréscimo do volume de acções negociadas. A conjuntura actual e a baixa dos juros da dívida portuguesa também têm ajudado sem dúvida à subida da PT.
 
Por enquanto, a cotação encontra-se suportada por uma linha de tendência ascendente (a azul) e não há motivos, para quem está comprado, sair da acção, pelo menos enquanto esta linha não for quebrada em baixa.
 
O grande desafio da PT é a importante zona de resistência dos 3,60/3,70€. Por duas vezes, nos últimos meses, testou este nível de preço, sem sucesso. Apenas uma penetração intradiária, aquando do anúncio da fusão da PT com a Oi, fez os títulos negociarem, por algumas horas, acima desta zona.
 
As médias móveis simples de 50 dias (vermelho) e 200 dias (preto) também cruzaram em alta, em Janeiro deste ano, dando um importante sinal bullish conhecido como “golden cross”.
 
Para quem está de fora, poderá tentar entradas longas junto da linha de tendência ascendente, zona que oferece uma relação retorno/risco bastante favorável ou, para quem for mais conservador, apenas quando quebrar a zona de resistência supracitada (dever-se-á confirmar a quebra da resistência através de um critério dual de tempo e preço, por exemplo, uma quebra de 3% acima da zona de resistência ou dois dias a negociar acima da mesma).
 
Na minha opinião, a incerteza é elevada e o potencial de valorização das acções da nova empresa dependerá fundamentalmente da concretização das sinergias e da capacidade da equipa de gestão em conseguir crescimento para a Oi.
 
A minha recomendação é de MANTER enquanto negociarmos abaixo dos 3,60/3,70€ e vender caso quebre a Lta em baixa.

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