quarta-feira, 21 de maio de 2014

Tudo o que precisa de saber sobre o aumento de capital do BES

Muitas são as dúvidas que me têm sido colocadas por email sobre o recente anúncio do aumento de capital do BES, e por isso decidi hoje publicar uma resposta comum e que espero esclarecedora.

O principal objectivo do BES, com este aumento de capital, é reforçar os rácios de solidez do banco, antes dos testes de stress a levar a cabo pela Autoridade Bancária Europeia até Outubro deste ano. Estes testes servirão para aferir a solidez financeira do sector financeiro europeu e serão os primeiros a ser realizados desde 2011.

Recordo que o banco, liderado por Ricardo Salgado, terminou o ano passado com o rácio de solidez “core tier one” de 10,6%, quando o mínimo exigido é 10%. Será precisamente para evitar surpresas que o BES terá recorrido a este aumento de capital. Também a necessidade de reposição dos rácios de solidez do ESFG, para níveis acima dos exigidos, terão pesado na decisão.

Mas vamos ao que interessa ao pequeno investidor. Deve ou não deve ir ao AC? A quantas acções terá direito? Como proceder em relação aos direitos? O que irá acontecer ao preço das acções do BES? Estas são algumas das questões que me foram colocadas por muitos investidores e às quais tentarei dar resposta nas próximas linhas.

As datas chave
O período de subscrição das novas 1.607.033.212 acções, a 65 cêntimos cada uma, arranca na próxima terça-feira, 27 de Maio. As ordens podem ser dadas até às 15h de 9 de Junho e a admissão á negociação na Euronext Lisboa deverá acontecer a 17 de Junho.

Os direitos
Segundo o prospecto, publicado no site da CMVM, será atribuído 1 direito de subscrição por cada acção a todos os investidores que detinham acções do banco até ao final da sessão de hoje. Para poderem comprar estas novas acções, os accionistas terão que entregar dois direitos e meio. Em termos práticos, e a título exemplificativo, um investidor que detenha 2500 acções do BES, poderá comprar 2500/2,5 = 1000 novas acções a 0,65€ cada.

Caso o investidor não queira exercer o seu direito de subscrição das novas acções, poderá negociar (em bolsa) esses mesmos direitos no período compreendido entre 27 de Maio e 3 de Junho.

À cotação de fecho de hoje do BES (0,9880€), cada direito é equivalente à diferença entre o preço de fecho e o preço de subscrição das novas acções, a dividir pelo número de direitos necessários para subscrever as novas acções, ou seja, (0,9880-0,65)/2,5 = 0,1352€. Teoricamente, amanhã o preço das acções do BES deverá ajustar esses mesmos 0,1352€ em baixa, o que equivaleria a uma abertura nos 0,8528€.

Cada um que tire as devidas elacções
Pessoalmente, não detenho qualquer acção do BES nem penso ir ao aumento de capital mas fica aqui a nota para quem o quiser fazer. A subscrição poderá ser feita de uma de duas maneiras: ou investidor já é accionista do BES e poderá exercer os seus direitos de subscrição ou, não o sendo, compra direitos de subscrição em bolsa, já a partir do próximo dia 27 de Maio, garantindo assim a compra das acções na proporção de 1 uma acção por cada 2,5 direitos, sendo o arredondamento por defeito.

Para quem não pretende participar no aumento de capital, recomendo a venda dos direitos o mais rapidamente possível. Não os deixem expirar, como muitas vezes acontece, pois além de não os exercerem, perderão a oportunidade de realizar algumas mais valias.
 
Como é sabido, “pela primeira vez desde a privatização do banco, os accionistas de referência – Espírito Santo Financial Group, Crédit Agricole, Bradesco e Portugal Telecom – não se comprometeram a acompanhar a operação na proporção das suas participações”, ou seja, irão alienar parte dos seus direitos o que irá pressionar o preço dos mesmos em baixa. Em resposta o BES apressou-se a recorrer à chamada “tomada firme” por parte do sindicato de bancos de investimento internacionais, de modo a garantir a colocação da totalidade do aumento de capital do BES, no valor de 1.045 milhões de euros.

Mais ridículo ainda é a forma como tentam aliciar os pequenos investidores. No prospecto da oferta pública de subscrição, pode ler-se na página 26, que “ o BES espera, no médio prazo, atingir resultados positivos e distribuir dividendos correspondentes a um pay-out ratio que tendencialmente deverá convergir para 40%, em linha com as últimas distribuições de dividendos efectuadas”.

No médio prazo?! O que é que isto quer dizer? Ainda este ano? Daqui a 2 anos? Estarão a tentar tapar o sol com a peneira?
 
Deixo a questão para vossa reflexão…
 

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