quinta-feira, 31 de julho de 2014

Bes: e agora?

Ontem à noite o BES apresentou um prejuízo recorde de 3,57 mil milhões de euros relativo ao primeiro semestre do ano. A administração do banco apontou que este valor se deveu a “factores extraordinários”, tendo contabilizado 4,3 mil milhões de euros só em imparidades relacionadas com provisões para eventuais perdas relacionadas com empresas do GES, provisões relacionadas com a desvalorização das acções da PT (onde o BES detêm uma posição de 10%), desvalorização dos activos do banco AMan Bank na Líbia, entre outras. A actividade da banca de retalho em Portugal também não foi famosa e a subida do crédito em 0,3% não foi suficiente para compensar a quebra dos depósitos de clientes em 5,2%, O rácio de crédito/depósitos caiu de 129% em Março para 126% em Junho.
 
A proibição da CMVM da venda a descoberto das acções do BES e a suspensão da negociação dos títulos, antes da abertura da sessão, não foi suficiente para impedir uma abertura com um gap em baixa de mais de 35%. A acção chegou mesmo a registar um mínimo nos 17 cêntimos mas a existência  de grandes ordens de compra neste preço, levou a um ressalto significativo até aos 28,6 cêntimos. Apesar de parecer pouco esta subida equivale a 68% de valorização (um movimento interessante para quem gosta de fazer trading de mais curto prazo).
 
E agora?
 
Há mais ou menos um mês escrevi uma análise intitulada “O Fim do Bull Market do BES”. Nessa altura a acção cotava a 0,78€ e tinha acabado de acontecer sinal técnico importante: um “death cross”, ou seja, o cruzamento das médias móveis de 50 e 200 dias em baixa. Foi mais que a tempo de quem ainda detinha acções do BES sair do título e minimizar as perdas. Passado mais de um mês, a acção cota mais de 50 cêntimos abaixo e a pergunta que se impõe é: quando é que esta sangria vai parar?
 
Gostaria de vos poder dar uma resposta conclusiva mas a verdade é que a resposta a esta pergunta é difícil de encontrar e dependerá muito da forma como o banco conseguir transmitir ao mercado os próximos passos a dar na recapitalização do banco e o caminho a ser seguido. Temos ainda a incerteza relativamente à nova data para a assembleia geral, que deveria ter sido realizada hoje, e as conclusões que daí saírem.
 
Os elevados prejuízos deixaram a instituição, liderado por Vítor Bento, com o rácio de solidez financeira "common equity tier 1" de 5%, muito abaixo do mínimo exigido pelo Banco de Portugal de 7%. O caminho mais provável será um aumento de capital entre os 1.500 milhões e os 3.000 milhões de euros e a venda de activos como a posição de 10% na PT.
 
Tecnicamente, o mercado fechou hoje com uma vela doji, a mostrar algum equilíbrio entre pressão compradora e vendedora. Os 0,17€ funcionam agora como um importante suporte e poderemos assistir a uma correcção técnica em alta, tendo como objectivo o fecho do gap nos 0,34€.
 
 

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