As acções da dona do Pingo Doce, que ocupa a 67ª posição no ranking (divulgado pela Deloitte) das maiores retalhistas do mundo, continuam a surpreender o mercado, mas pela negativa. Enquanto o PSI-20 acumula uma valorização de 11,72% este ano, a Jerónimo Martins resvala quase 14%, em claro contraciclo com o índice.
Desde o máximo registado em Abril de 2013, nos 18,50€ por acção, que as acções já desvalorizaram 33,7%. Aos preços actuais a Jerónimo Martins está avaliada em 7,72 mil milhões de euros.
Mas será a Jerónimo Martins, aos preços actuais, um bom investimento?
No passado dia 25 de Fevereiro, a Jerónimo Martins apresentou os resultados referentes a 2013. Apesar dos lucros terem aumentado 6%, para os 382,3 milhões de euros, estes resultados ficaram claramente aquém das expectativas. Dos 1.146 milhões de euros que o grupo facturou a mais em 2013, face ao ano anterior, 1.009 milhões vieram da actividade da retalhista na Polónia, através da rede de supermercados Biedronka. Relembro o leitor, que a actividade na Polónia representa 76% da facturação total do grupo. O facto do euro ter valorizado muito face ao zloty, sobretudo na primeira metade de 2013, teve um impacto negativo de 39 milhões de euros nas contas do grupo de distribuição, uma vez que apesar das receitas serem em zlotys as contas são reportadas em euros.
Os riscos de investir na Jerónimo Martins…
Quando falamos da Jerónimo Martins temos que falar necessariamente na sua subsidiária polaca a Biedronka. A guerra de preços levada a cabo pela Jerónimo Martins, que se assume como um hard discounter no mercado polaco, bem como o investimento na abertura de nova lojas e o menor crescimento das vendas comparáveis, tem levado a uma diminuição das margens de lucro.
Estes factores, associados ao risco de abrandamento da economia portuguesa e ao efeito que o aumento dos impostos terá nos hábitos de consumo dos portugueses são, na minha opinião, os principais condicionantes na evolução dos títulos em bolsa.
Os principais catalisadores…
A avaliar pelos resultados apresentados pela empresa no ano passado, as vendas em Portugal, através da cadeia de supermercados Pingo Doce, aumentaram e a margem dos supermercados deverá continuar a aumentar este ano com a publicação da nova lei que regula as negociações entre a distribuição e os seus fornecedores. O diploma, que entrou em vigor no dia 25 de Fevereiro, deverá levar a um aumento das vendas das marcas próprias da cadeia Pingo Doce.
No mercado polaco, os planos de expansão da marca poderão surtir efeito nos próximos anos e gerar um aumento das receitas. Recentemente, a Jerónimo Martins apresentou uma autorização, junto da Autoridade de Concorrência e Defesa do Consumidor da Polónia, para comprar 11 lojas da cadeia concorrente Marcpol. A Marcpol é uma cadeia de supermercados, com sede em Varsóvia, que existe há 25 anos e que tem mais de 60 lojas. As perspectivas de valorização do zloty para este ano, também poderão ajudar a melhorar as margens financeiras da empresa neste mercado.
O crescimento também se poderá fazer através das novas áreas de negócio. Na Polónia, a rede de parafarmácias Hebe, registou vendas de 50 milhões de euros no ano passado. E na Colômbia, onde a Jerónimo Martins está apenas há 10 meses, a loja Ara facturou 21 milhões de euros. Apesar da pouca visibilidade que a JM tem na Colômbia, a atractividade deste mercado e o potencial de crescimento que apresenta, mais que justificam o investimento da retalhista neste país.
O que nos diz a Análise Técnica?
Como disse no princípio da análise, nunca é demais frisar que a retalhista vive um bear market em pleno bull market do PSI-20.
A acção tem vindo a quebrar suportes atrás de suportes e a queda dos títulos parece não ter fim. As quedas no preço têm sido acompanhadas de elevado volume, enquanto os períodos de subida/consolidação se têm feito com volumes fracos, salvo raras excepções.
Muito se tem falado, em diversos fóruns e blogues da especialidade, nas figuras de inversão que a Jerónimo Martins tem feito nas últimas semanas e na eventualidade de estar a forma um fundo que levaria a uma correcção de maior proporção. A mais conhecida e falada tem sido o martelo. Trata-se duma vela japonesa em que o corpo da vela é bastante pequeno, quando comparado com a sombra inferior que deverá ser pelo menos 2 a 3 vezes o tamanho deste último, evidenciando uma forte pressão compradora. Já a sombra superior da vela deverá não deverá existir ou ser insignificante. Exemplos disso foram os dias 31/07/2013, 23/01/2014 e mais recentemente 04/02/2014. Ainda assim, apenas serviram para suster um pouco as quedas e ajudar acção a ganhar força para novo movimento baixista.
No passado dia 14 de Março, a acção testou pela primeira vez mínimos de 2 anos nos 11,25€. Trata-se não só de uma importante zona de suporte como também do nível 38,2% de fibonacci de todo o Bull Market que acção viveu entre 2009 e 2013.
Será suficiente para um rebound significativo?
Só o tempo o dirá, mas a quebra em alta dos 12,80, que significaria o fecho do gap que acção deixou em aberto no dia a seguir à apresentação de resultados, daria um primeiro sinal de que os bulls estariam novamente a comandar a acção. Nesse cenário, a próxima resistência estaria nos 13,50€.
Pessoalmente estou de fora e assisto ao desenrolar dos desenvolvimentos com alguma prudência. Caso quebre, em baixa, os mínimos do ano nos 11,25€ passo a estar pessimista novamente.
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