domingo, 20 de abril de 2014

"Sell in May and Go Away"

Como em quase tudo na vida na bolsa também há altos e baixos. Existem períodos de grande euforia, que são seguidos de períodos de depressão e desânimo generalizado.
 
Porém, se soubéssemos de antemão quais os meses probabilisticamente mais fortes e quais os mais fracos, poderíamos usar essa informação a nosso favor.
 
Venda em Maio e vá embora!
 
Esta é uma das máximas mais antigas em Wall Street e que diz que os investidores devem vender as suas acções em Maio, de modo a evitar a queda sazonal, e voltar ao mercado em Novembro, evitando assim o período de maior volatilidade entre Maio e Outubro. A estratégia é baseada na underperformance histórica das acções no período de seis meses que se inicia em Maio e termina em Outubro.
 
Os números falam por si: por cada dólar investido, apenas durante os melhores 6 meses (Novembro a Abril), no índice americano Dow Jones Industrial Average (DJIA), o investidor teria 50 dólares ao fim de 57 anos, graças à rendibilidade média anual de 7,11%. Isto considerando que, nos restantes 6 meses (Maio a Outubro), aplicasse o dinheiro no mercado monetário (num depósito a prazo, por exemplo).
 
Seguindo a lógica inversa, ou seja, investindo um dólar durante os piores 6 meses, resultaria nuns escassos 1,07 dólares, correspondente a um ganho média anual de 0,13%.
 
Apesar de não existirem factos concretos que suportem este fenómeno, os académicos apontam algumas razões que podem explicar o sucesso da estratégia:
 
  1. Em Maio termina o período de devolução do IRS nos EUA. Quando acabam as devoluções, terminam também as injecções de capital na bolsa;
  2. Quando chega o verão, as pessoas vão de férias e deixam um pouco de parte os investimentos. Como consequência a liquidez dos mercados baixa e tende a limitar os ganhos nas acções;
  3. Com a aproximação do Outono, e início do ano lectivo, os investidores voltam a concentrar-se na constituição das suas carteiras;
  4. Os fundos de investimentos tendem a reajustar as carteiras em Outubro, antes do final do ano fiscal;
  5. Os bónus pagos aos funcionários no final de ano fazem aumentar os fluxos monetários no mercado bolsista e ajudam a contribuir para o famoso rally de Natal e de início de ano.
  6. A antecipação dos investidores à divulgação dos resultados das empresas, relativa ao 1º trimestre do ano, sustenta os meses de Março e Abril.

Como é óbvio existem algumas limitações a esta estratégia, quando comparada com uma estratégia de “Buy and Hold” (comprar e deixar ficar), como é o caso do acréscimo de custos de transacção resultantes das entradas e saídas do mercado.
 
Ainda assim, salvo alguns anos de excepção (que confirmam a regra), está demonstrada estatisticamente a eficácia desta estratégia no mercado americano. Mas será que a mesma se pode aplicar ao mercado português?
 
Resolvi pegar num período mais curto, e estudar os últimos 10 anos de negociação do PSI-20. Os resultados foram convincentes!
 
Um investidor que tivesse seguido a estratégia “Sell in May and Go Away”, com uma carteira de 10.000€, desde Janeiro de 2004 até à última 6ª feira, dia 17 de Abril, teria rentabilizado o seu capital em 57,61%, o equivalente a 5,76% ao ano. Este valor compara com os 7,11% de média anual para DJIA. No entanto, há uma diferença importante. Não considerei a aplicação do capital no mercado monetário, durante os 6 meses que o investidor não está no mercado accionista.
 
Já o investidor que tivesse seguido a estratégia inversa, ou seja, estar investido no PSI-20 entre Maio e Outubro e fora entre Novembro e Abril, teria tido chegado à última 6ª feira com 6699€, o equivalente a -3,3% por ano.
 
Só a estratégia “Buy and Hold” suplantou, em alguns períodos, a estratégia “Sell in May and Go Away”. Foi o caso do fortíssimo Bull Market, entre 2005 e 2007, em que quem tivesse seguido a primeira estratégia teria aproveitado melhor as subidas do que quem se tivesse mantido fiel à segunda. Ainda assim, num horizonte temporal mais dilatado, seguir a estratégia “Sell in May and Go Away” continua a ser mais vantajoso. Quem tivesse mantido as acções em carteira, desde Janeiro de 2004 até agora, teria agora uns modestos 10.897€. Esperar 10 anos para lucrar cerca de 9%? A melhor ideia é mesmo aproveitar o “timing” do mercado.
 
Agora que nos aproximamos do final de Abril, não deixe que os meses de verão torrem a sua carteira.
 

 

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