quinta-feira, 13 de março de 2014

As acções dos CTT continuarão a dar cartas?

A Oferta Pública de Venda
 
O programa de ajustamento económico e financeiro imposto pela Troika a Portugal, na sequência do pedido de resgate em Abril de 2011, obrigava o Estado português a redimensionar a sua presença na economia, através da alienação de diversas empresas onde o Estado era accionista maioritário, entre as quais os Correios de Portugal.
 
 
 
A opção do governo passou pela privatização de 70% do capital dos CTT em bolsa, correspondente a 105 milhões de acções, dum total de 150 milhões de acções representativos de 100% do capital social. Esta operação seguiu a tendência do que havia acontecido recentemente na Europa com a privatização da belga BPost e do britânico Royal Mail. Recordemo-nos que a última operação de entrada em bolsa deste género foi há cinco anos, protagonizada pela EDP Renováveis.
 
A entrada em bolsa dos CTT foi concretizada através de uma oferta pública de venda (OPV) destinada a investidores particulares e funcionários da empresa, e de uma venda directa destinada a investidores institucionais. O grande objectivo desta OPV foi dotar a empresa de uma estrutura accionista diversificada, com uma importante base de investidores de retalho.
 
O intervalo de preço fixado pelo Governo foi entre os 4,10 euros e os 5,52 euros, o que avaliava a empresa entre os 615.000.000 e os 828.000.000 milhões de euros, respectivamente. Os trabalhadores da empresa beneficiaram dum desconto de 5% mas estavam obrigados a deter a acção em carteira até ao passado dia 5 de Março.
 
A forte procura por parte dos investidores institucionais, levou o governo a fixar o preço final no limite superior do intervalo, ou seja, nos 5,52 euros. A procura por parte dos pequenos investidores também foi elevada, com os CTT a apresentarem-se com uma das empresas com o dividend yield mais elevado e com a empresa a comprometer-se a manter um pay out ratio (percentagem do lucro que é distribuído aos accionistas sobre a forma de dividendo) superior a 90% em 2014.
 
Desde a sua entrada em bolsa, a 5 de Dezembro de 2013, que os CTT já valorizaram 32,43%. A conjuntura actual, com os juros da dívida portuguesa a baixarem em todos os prazos, a divulgação de várias entradas no capital dos CTT por parte de grandes empresas como a BlackRock, a UniCredit, a Goldman Sachs e alguns fundos de investimentos nacionais, a recuperação operacional que administração levou a cabo e a elevada atractividade dos dividendos têm contribuído para o bom desempenho das acções dos CTT.
 
Resultado líquido aumentou 70% em termos homólogos
 
Os CTT apresentaram ontem resultados, referentes ao exercício de 2013, de 61 milhões de euros, o que compara com os 35,7 milhões do ano anterior (um aumento de 70%).A contribuir para estes resultados esteve a área de serviços financeiros (os seguros de capitalização e os títulos de dívida pública foram determinante para a evolução dos resultados da empresa), o aumento do tráfego de encomendas em Portugal e Espanha  e a redução dos custos operacionais em 4,5%, o que superou a quebra das receitas de 1,3% para os 704,8 milhões de euros.
 
Em comunicado, os CTT confirmaram ontem que vão propor, em assembleia geral, o pagamento de um dividendo de 40 cêntimos por acção aos seus accionistas, o que confere um dividend yield de 5,47% (à cotação de fecho de hoje). Apesar da forte subida dos títulos, desde a entrada em bolsa, este dividendo continua a ser um dos mais rentáveis da praça portuguesa.
 
Os riscos de investir nos CTT
  • Exposição elevada á economia portuguesa: Portugal representa 90% das vendas, donde uma evolução negativa da economia representa um risco importante para o negócio dos CTT;
  • A forte dependência de grandes clientes: a perda de grandes clientes poderá ter um impacto grande na receita;
  • Dividendos elevados comprometem expansão do negócio: o elevado dividendo pago pelos CTT é favorável aos accionistas mas poderá comprometer a política de expansão e internacionalização dos CTT, ao deixar pouco lucro disponível para ser reinvestido no negócio;
  • Nos últimos dias tem-se noticiado a possibilidade de o Governo antecipar a alienação dos restantes 30%, detidos pela Parpública, o que, de acordo com o prospecto da oferta inicial, estaria impedido de fazer até Setembro. Esta venda poderá ser prejudicial, a curto prazo, uma vez que a liquidez adicional poderá fazer com que haja um excesso de pressão vendedora, mas benéfica a longo prazo com o aumento do free float.
Factores Positivos
  • Remuneração accionista elevada: a empresa apresenta um dos dividend yield mais elevados da praça portuguesa. À cotação de fecho de hoje, o dividend yield é de 5,47%;
  • Empresa sem dívida: a empresa não apresenta dívida e apresenta um cashflow elevado;
  • Cobertura por todo país: a rede de estações dos CTT e parceiros aderentes é bastante abrangente e permite á empresa reforçar a sua posição em algumas áreas sem ter que incorrer em custos elevados;
  • O aumento dos preços de produtos de correio interno, a concretizar em Abril;
  • A venda de obrigações soberanas nos balcões dos correios.
O que nos diz a Análise Técnica?

A análise técnica pressupõe a existência de um histórico de cotações considerável, de modo a ser possível extrapolarmos eventos passados no futuro.
 
Ora, a recente entrada em bolsa dos CTT não permite o cumprimento desse requisito, pelo que não faz muito sentido analisar tecnicamente o título. De qualquer maneira, existem já alguns níveis de preço de referência a que devemos prestar alguma atenção. São eles os suportes dos 6,20€, 6,58€ e 6,85€ e a resistência dada pelo máximo absoluto nos 7,50€, aproximadamente.
 
Conclusão

Na minha opinião, e apesar da turbulência causada pela tensão na Ucrânia nas últimas semanas, as acções dos correios, por estarem inseridas num sector mais defensivo, continuam a apresentar potencial de valorização, pelo menos até à entrada da acção no índice principal PSI-20 a 24 de Março. Por essa altura, a entrada no PSI-20, que vem dar maior visibilidade à empresa, já se encontra descontada no preço, e deveremos assistir a uma correcção.

Tendo em conta os resultados de 2013 divulgados ontem, os CTT apresentam um PER de 17,98 que está um pouco acima da média do sector.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Incumprimento da Dívida na China Provoca Sell-Off no Cobre

Durante esta madrugada, os mercados accionistas asiáticos caíram bastante com receios em relação a mais incumprimento da dívida na China. O índice nipónico Nikkei 225 caiu abaixo dos 14900 pontos, penalizado sobretudo pelas acções do sector das telecomunicações e materiais, depois da negociação das obrigações da empresa Baoding Tianwei Baobian ter sido suspensa durante 2 horas.
A preocupação dos investidores quanto a um possível efeito contágio, levaram os preços do cobre a cair para mínimos de 4 anos, uma vez que a China é responsável por 40% do consumo global de cobre. O cobre é usado sobretudo como colateral no financiamento às empresas e no sector da construção.
Nas últimas 4 sessões, o cobre desvalorizou quase 8%, estando hoje a testar mínimos de 2010 nos 300 USD. Apesar da tendência ser claramente descendente, um olhar atento aos indicadores de momentum, mostra-nos níveis de sobrevenda extremos. O indicador RSI está nos 20, algo que não acontecia desde Setembro de 2011, altura em que o cobre valorizou cerca de 25% em apenas um mês. Este factor técnico, conjugado com o facto do cobre se encontrar a testar o importante suporte dos 300 USD e da vela diária de hoje ser um doji (vela japonesa com sombra superior e inferior e com um corpo muito pequeno, o que mostra equilíbrio entre a pressão compradora e vendedora), levam-me a abrir uma posição longa a 298,70 com stop loss a 292 e take profit na resistência dos 312.
 
Apesar da relação retorno/risco do investimento ser de 1:2, uma vez que investimos contra a tendência principal, opto por assumir um risco de 2% da carteira, em vez dos habituais 3%.
 

terça-feira, 11 de março de 2014

AUDUSD (ACTUALIZAÇÂO)

Os rumores sobre possível novo incumprimento por parte de uma empresa chinesa, levou a um forte sell-off nos metais, matérias-primas energéticas e commodity currencies, como é o caso do AUDUSD.
 
O stop loss das ordens abertas no dia 6 de Março e no dia 27 de Fevereiro em AUDUSD foram activados a 0,9020 com resultados de -78,8pips e +92pips, respectivamente.

Análise ao S&P500

As últimas semanas têm sido bastante proveitosas para quem está exposto ao mercado accionista americano. A pressão compradora nos índices americanos continua bastante forte, ao contrário dos europeus que se encontram em consolidação há várias semanas e dos emergentes que têm caído bastante.
 
A análise de hoje é sobre o índice americano S&P500, que agrega as 500 maiores empresas americanas em termos de capitalização bolsista.
 
A meu ver o potencial de subida no curto prazo é limitado, quer por razões geopolíticas, quer pelo fraco crescimento a nível mundial, quer pelo tapering iniciado pela Reserva Federal Norte Americana, entre outros factores.
 
Do ponto de vista técnico, o S&P500 encontra-se a negociar num canal ascendente de médio a prazo (a azul no gráfico). A detecção atempada deste tipo de padrões técnicos, gera boas oportunidades de trading (shortar junto do limite superior e alongar junto do limte inferior). Neste momento, o índice está a testar o limite inferior deste canal, podendo oferecer um bom ponto de entrada longa ou, em caso de quebra em baixa, de entrada curta no índice. Se reagir em alta nesta zona, poderemos esperar um teste aos máximos anuais nos 1888 pontos. Caso contrário, a sua quebra poderá levar o índice a testar a sua zona de suporte nos 1850 pontos ou 1830 (média móvel simples de 50 dias).
 
 
Correlação inversa entre o VIX e o S&P500 em 80% das vezes
 
O VIX é um índice (calculado pela Chicago Board Options Exchange) que mede a volatilidade implícita do S&P500, ou seja, a expectativa do mercado em relação à volatilidade do índice S&P500 para um período de 30 dias. O índice é medido em termos percentuais. Por exemplo, se o VIX estiver a 15%, significa que a espectativa anualizada do mercado é que haja uma variação do S&P500 de 15% durante os próximos 30 dias; daqui, podemos inferir que os mercados de opções esperam que o índice S&P500 suba ou desca 15%/√12 = 4,33% durante os próximos 30 dias.
O gráfico abaixo mostra a relação entre o S&P500 e o VIX durante todo o ano de 2013 e princípio de 2014, numa base diária. A sua análise permitiu concluir que o VIX se movimenta na direcção oposta ao S&P500 em 80% das vezes, ou seja, quando o VIX está em máximos o S&P está em mínimos relativos e vice-versa.
 
Neste momento, o VIX encontra-se perto dum suporte importante nos 13,50 e com potencial de subir até aos 16,75. Uma ida à zona de resistência dos 16,75, significa que os investidores estão a comprar voltatilidade, fazendo hedging dos seus portfólios face a uma eventual queda do S&P500 e, por arraste, dos principais índices a nível mundial.
 
 
 
Nas próximas sessões, deveremos monitorizar o comportamento do VIX e atentar ao comportamento do S&P500 no limite inferior do canal ascendente em que negoceia.

 

Trigo (Recomendação)

Na sequência da análise feita ontem ao trigo, entramos longos no contracto de trigo, para entrega em Maio, a 653USD.
 
Depois dum teste aos 38,2% de fibonacci, o trigo acabou de quebrar, em alta, um canal descente em gráfico horário.
 
O stop loss deverá ser colocado no 612USD e o take profit nos 700USD.
 
 

Actualização da Tabela de Apresentação de Resultados (PSI20)

Altri, Cofina e REN apresentaram resultados referente ao exercício de 2013 nos últimos dias. Deixo a tabela actualizada.
 
 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Trigo: Oportunidade de Compra a Médio/Longo Prazo

Na minha opinião é no mercado agrícola que continuam a existir algumas oportunidades de compra nas commodities. A análise de hoje centra-se no trigo, depois da divulgação dos relatórios das colheitas esta tarde pelo USDA (United States Department of Agriculture).
 
Mesmo depois da recente subida de 18,4% do preço do trigo, numa perspectiva de longo prazo (a 5 anos) o preço do trigo continua barato e bastante sobrevendido (considerando posições não comerciais). Esta afirmação é consubstanciada pelos baixos níveis de inventários actuais, que se traduzem em aproximadamente 11 semanas de consumo.
 
Oferta e Procura
A oferta excendentária deverá manter-se nas duas próximas temporadas, mas deverá cair 26 milhões de toneladas em 2014/2015 e 5 milhões de toneladas em 2015/2016. O crescimento da procura deverá manter-se estável nos 3%, potenciado pelo crescimento da população a nível mundial. A queda anunciada do excedente de produção e os baixos níveis de inventários, fazem com que o preço do cereal seja muito sensível a qualquer problema no que toca à qualidade das colheitas e exportação da matéria-prima pelos principais produtores (Estados Unidos, América do Sul, Rússia e Ucrânia).
O IGC (International Grains Council) reviu em baixa a sua previsão de plantação de trigo para 2014 para 696,3 milhões de toneladas dos anteriores 697 milhões de toneladas. O downgrade reflecte um corte de 500.000 hectares de área de cultivo a nível mundial, principalmente na Ucrânia, onde o tempo húmido dificultou o semeio durante o Outono, e na Turquia, onde as plantações foram atingidas pela seca, seguida de tempo frio, levantando preocupações acerca da qualidade das
O faz mexer o preço actualmente?
Nas últimas semanas o preço de cada bushel de trigo disparou nos mercados internacionais. Esta valorização reflecte as preocupações dos investidores em torno da crise geopolítica na Ucrânia. A convocação dum referendo na Crimeia sobre a possibilidade da região passar a integrar a Rússia, provocou um spike no preço do trigo.
Apesar de haver poucas evidências em relação aos efeitos que esta crise possa ter na exportação do cereal por parte da Ucrânia (6º maior exportador a nível mundial), a mera possibilidade de que possa haver interrupções no fornecimento do cereal, leva o preço a disparar.
A Ucrânia exportou 25 milhões de toneladas de trigo desde Julho de 2013 até agora, prevendo-se que ainda possa exportar 8,7 milhões de toneladas nos restantes 4 meses da colheita.
Previsões de seca
O USDA  estima que a seca nos Estados Unidos deverá continuar durante as próximas semanas. A más condições meteorológicas, com o inverno frio e seco, tem prejudicado as plantações de trigo. A título exemplificativo, o estado do Kansas (maior produtor do cereal), teve um rácio entre plantações de boa qualidade/má qualidade de 34%, menos 1% que no mês anterior. Nos restantes estados as quedas neste rácio foram ainda mais acentuadas.
Relatório de Março do USDA
Hoje pelas 16h00 foram divulgados os relatórios das colheitas de trigo por parte do USDA em linha com o esperado.
- Wheat End Stocks 558 mln vs. Exp. 562 mln (Prev. 558 mln)
- Wheat Production 2130mln vs. Prev. 2130mln
- Wheat Yield Per Acre 47.2 vs. Prev. 47.2
 
Em reacção, o trigo reagiu caiu 2,1%.
O que nos diz a Análise Técnica?
O trigo tem vindo a subir desde o início de Fevereiro, tendo já valorizado 18,4%. Na passada sexta-feira testou uma importante resistência nos 665USD por cada 100 bushel, coincidente com os máximos de Dezembro de 2013.
Na minha opinião, os níveis de sobrecompra ,dados pelo indicador de momentum RSI, e o facto da vela de hoje, em conjunto com a de 6ª-feira, ter formado um bearish engulfing pattern, leva-me a crer que o trigo poderá ainda ter um ligeiro potencial de queda, antes de voltar a subir.
Os níveis 38,2% (633,45) e 50% de fibonacci (624,65) do último swing de alta, oferecem boas oportunidades de compra. Tentaremos uma compra num destes níveis, com stop loss nos 610USD. O objectivo será a zona de preço dos 710USD.